domingo, 7 de outubro de 2012

Lembranças de um Domingo





As melhores lembranças que tenho da minha infância acontecerão nos domingos. Isso porque era sempre dia de reunir toda a família. Às vezes, nem toda, porque a diferença de idade entre eu e meus irmãos é grande, os dois sempre estudarão fora, por isso fui criada praticamente sozinha. Mas todos os domingos era sempre eu, meu pai e minha mãe. E a carne assada que meu pai fazia, que até hoje não me lembro de comer carne mais saborosa.
Esperava a semana inteira pelo domingo, era o tempo que tinha com meu pai, já que durante semana vivia na fazenda. Então acordava de manhã, com o sol batendo nas cortinas rosas, transformando o quarto num verdadeiro quarto rosa pink de Barbie. Trocava de roupa, descia as escadas e ia logo procurar meu pai, a partir daí eu ia a onde ele fosse. Eu era praticamente a sombra dele, lembro-me de acompanha-lo ao boteco da esquina para compra a Coca-Cola de todo domingo. Eu conversava com o dono e com todos por lá enquanto meu pai tomava sua cerveja e eu meu refrigerante proibido pela minha mãe.
Voltávamos para casa já na hora de começar a assar a carne. O almoço era servido sempre, pontualmente, às 12hs. Lembro-me do meu pai colocando a carne no espeto e eu especulando como se fazia carne e quando ficaria pronta. Sempre bem assada, pois, eu lembrava o meu pai que a carne mal passada poderia causar doenças.  Depois disso, lembro o meu pai me ensinar a colocar limão na carne e de tomar a faca da minha mão para que eu não me machucasse.
Quando dava 12hs à carne estava pronta e íamos todos sentar-se à mesa para almoçar. A mesa era sempre posta pela minha mãe que cuidadosamente colocava as quentes panelas sobre um esteio para que não estragasse a mesa. Depois trazia a maionese que meu pai adorava, enfeitada com folhas de alface em volta e rodelas de ovos cozidos por cima. Distribuía os pratos de forma que meu pai sempre ficasse na ponta da mesa e então meu pai levava a carne, era a deixa que o almoço estava servido.
Eu sentava sempre no local do meu pai, até a hora que minha mãe me expulsava de lá. A partir daí eu mudava para à esquerda do meu pai e a minha mãe para à direita dele. Então almoçávamos todos juntos, como uma família, feliz e unida.
Após o almoço eu deveria ajudar minha mãe a arrumar a cozinha, lava as vasilhas. Eu como uma boa filha, me escondia para não ter que fazer a tarefa. A tática sempre era fugir antes que ela disse: “Maria Dramática, as vasilhas são por sua conta”. Porque se ela dissesse não haveria escapatória, meu pai apenas diria: “Vá ajudar a sua mãe”. Com minha mãe sempre discutíamos, mas com meu pai nunca tivemos coragem. Satisfeito com o almoço meu pai se dirigia ao seu quarto para a sua hora de sono, que duraria até às 16hs da tarde, com breves interrompimentos meus.
Com o passar do tempo, esse domingos foram ficando escassos. Eu cresci, meu pai já não deixava acompanha-lo aos botecos, os almoços que deveriam ser servido sempre as 12hs, continuarão a ser servido no mesmo horário. Entretanto meu pai começará a se atrasar, o que fez minha mãe cortar os churrascos e a não espera-lo mais para o almoço.
Os meus domingos que eram sempre nos três passaram ser só nos duas. E os domingos do meu pai passaram ser sempre da amante e os dos seus três enteados. Aqueles domingos que marcaram tanto minha infância passarão a ser só lembranças.

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