domingo, 26 de agosto de 2012

Coração de papel




O analista pediu que amassasse uma folha de papel, e em seguida tentasse fazer o papel voltar ao que era antes, liso sem qualquer sinal de machucado feito pela minha mão, apenas uma folha branca e lisa de papel. Em seguida pediu que repetisse o procedimento. Ao terminar pediu que tentasse fazer o papel voltar ao que era antes, era impossível que a folha de papel voltasse as suas origens. Vi que o papel encontrava-se mais amassado que da primeira vez, como se não pudéssemos refazê-lo sem considerar suas marcações anteriores. Se fosse possível voltar ao jeito que era, tudo seria diferente, faria tudo diferente, mas não é.
Nascemos brancos e puros, assim como uma folha de papel, sem passado, sem presente e sem noção de um futuro. Crescemos, sonhamos, apaixonamos e sofremos. Constroem a personalidade aos poucos, através das experiências de vida. Nesse ciclo de vida que parece interminável parece haver muito mais sofrimento do que alegria. Aquilo que nos machucou fica marcado na alma, ela não voltará ao normal, não há borracha que apague os ferimentos da alma.
Depois de um tempo, as feridas começam a cicatrizar, mas elas não se curam, as cicatrizes nunca desaparecerão ficarão ali marcadas no fundo da alma. Um dia, depois de um longo tempo, quando você achar que elas estão curadas, se reencontrará diante da mesma situação. Nesse momento sentirá uma sensação ruim. Algo está errado, suas pernas irão querer ir para direção oposta, seu pensamento só pensará em um modo de evitar aquela situação.
Sem compreender que seus sentimentos de medo, de fracasso e de tristeza que são em razão da ferida que foi reaberta, tentará fugir ou até encarar os fatos. Acontece que você nunca olhará, novamente, para a vida sem a assombração do passado. Não conseguirá ver os fatos como realmente são, terá sempre a impressão de que algo está errado. E de fato, algo está errado, é você que está toda quebrada por dentro, machucada, cansada de tentar curar suas feridas e, ao em vez disso, só multiplica-las.
A maior invenção do ser humano ainda será quando inventar algo para que se feche essa feriada para sempre e que possamos enfim retornar ao papel em branco original. E assim, sem essa sensação de fracasso e sofrimento, possamos enfrentar os momentos da vida como se fossem os primeiros, não sem esquecer os erros do passado, mas com coragem o suficiente de viver a vida sem medo de sofrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário