O analista pediu que amassasse uma folha de
papel, e em seguida tentasse fazer o papel voltar ao que era antes, liso sem
qualquer sinal de machucado feito pela minha mão, apenas uma folha branca e
lisa de papel. Em seguida pediu que repetisse o procedimento. Ao terminar pediu
que tentasse fazer o papel voltar ao que era antes, era impossível que a folha
de papel voltasse as suas origens. Vi que o papel encontrava-se mais amassado
que da primeira vez, como se não pudéssemos refazê-lo sem considerar suas
marcações anteriores. Se fosse possível voltar ao jeito que era, tudo seria
diferente, faria tudo diferente, mas não é.
Nascemos brancos e puros, assim como uma folha
de papel, sem passado, sem presente e sem noção de um futuro. Crescemos, sonhamos,
apaixonamos e sofremos. Constroem a personalidade aos poucos, através das
experiências de vida. Nesse ciclo de vida que parece interminável parece haver
muito mais sofrimento do que alegria. Aquilo que nos machucou fica marcado na
alma, ela não voltará ao normal, não há borracha que apague os ferimentos da
alma.
Depois de um tempo, as feridas começam a cicatrizar,
mas elas não se curam, as cicatrizes nunca desaparecerão ficarão ali marcadas
no fundo da alma. Um dia, depois de um longo tempo, quando você achar que elas
estão curadas, se reencontrará diante da mesma situação. Nesse momento sentirá uma
sensação ruim. Algo está errado, suas pernas irão querer ir para direção
oposta, seu pensamento só pensará em um modo de evitar aquela situação.
Sem compreender que seus sentimentos de medo,
de fracasso e de tristeza que são em razão da ferida que foi reaberta, tentará
fugir ou até encarar os fatos. Acontece que você nunca olhará, novamente, para
a vida sem a assombração do passado. Não conseguirá ver os fatos como realmente
são, terá sempre a impressão de que algo está errado. E de fato, algo está
errado, é você que está toda quebrada por dentro, machucada, cansada de tentar
curar suas feridas e, ao em vez disso, só multiplica-las.
A maior invenção do ser humano ainda será
quando inventar algo para que se feche essa feriada para sempre e que possamos
enfim retornar ao papel em branco original. E assim, sem essa sensação de fracasso
e sofrimento, possamos enfrentar os momentos da vida como se fossem os
primeiros, não sem esquecer os erros do passado, mas com coragem o suficiente
de viver a vida sem medo de sofrer.
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